sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Memórias de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Marquez.

“No ano que completei noventa anos, quis presentear-me com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem”. Assim começa o livro “Memórias de Minhas Putas Tristes”, escrito e publicado em 2004, pelo genial escritor Gabriel García Marquez, Prêmio Nobel de Literatura 1982.
A história se passa no início do século XX, numa cidade da Colômbia. O protagonista e narrador é um homem “feio, tímido e anacrônico” que durante sua vida jamais conhecera o amor, habituando-se à solidão e ao sexo com prostitutas.
Jornalista e escritor, ele sobrevive de sua aposentadoria como telegrafista e da publicação de crônicas dominicais no jornal El Diario de La Paz.
Chegando ao fim da vida, e tomado pela urgência de ter uma história de amor para contar, decide ligar para Rosa Cabarcas, dona de um bordel clandestino. Rosa, que não vê o cliente há 20 anos, considera o pedido, no mínimo, trabalhoso, pois as moças disponíveis eram, segundo ela, “usadas”. Ele insiste que seu pedido seja realizado o quanto antes, visto que numa questão dessas, e em sua idade, “cada hora é um ano”.
Logo será surpreendido por um telefonema de Cabarcas:  - Tenho o teu presente.
Era uma menina de 14 anos, cuja família passava por necessidades, o que a obrigava a vender sua virgindade à melhor oferta. O homem não sabe, mas logo será invadido por um sentimento do qual até então só ouvira falar: o amor. Longe de realizar seu desejo carnal, é a sensação do inatingível que o arrebata, quando encontra a menina dormindo no quarto que lhe fora destinado. Incapaz de despertá-la, passa a noite a admirá-la, fato que se repetirá na noite seguinte, na outra e nas demais. Sem querer saber seu nome, o velho jornalista a batiza de Delgadina. Trata-se da moça perfeita, porque intocável. O ideal personificado do amor, pois jamais se concretiza: uma bela adormecida. Passa a amá-la, não pelo que ela lhe oferece, mas pelo que não pode (e não quer) alcançar. Como se o amor quando atingido perdesse o encanto
Estabelece-se um pacto sem palavras. Diante dessa beleza silenciosa, o velho jornalista passa a escrever as melhores crônicas de sua vida. De colunista medíocre e ultrapassado, torna-se autor concorrido, emocionando leitores que aguardam ansiosos pelos textos do próximo domingo.
Assim será até que um assassinato no local, leva ao fechamento do bordel. Separado de sua amada, ele sentirá, durante um ano, todos os sentimentos que o amor provoca em uma vida inteira: ciúme, aflição, medo, saudade, dor.
"Naquela tarde, de regresso a casa outra vez sem o gato e sem ela, verifiquei que não só era possível morrer, mas que eu próprio, velho e sem ninguém, estava a morrer de amor".
À primeira vista, o tom do livro parece excessivamente melancólico e o tema, perverso ou indecoroso. Mas na imaginação privilegiada do autor e na perfeição com que conduz a história, esse romance, que tem quase a extensão de um conto, transforma-se numa  linda fábula sobre a descoberta do amor, após uma vida inteira de vazio e solidão. Mesmo não sendo o melhor romance de Gabriel García Marquez, "Memórias de Minhas Putas Tristes" nos brinda com um texto primoroso e uma trama bem engendrada, tão comum em suas obras. Por ser um livro curtinho, apenas 132 páginas, pode ser lido rapidamente, deixando um gosto de "quero mais". Quase uma degustação, para abrir o apetite.
Apesar de certa semelhança com o tema de Lolita, de Wladimir Nabokov, a história de Marquez traz o romantismo de um conto de fadas. No desenrolar da história, os papéis se invertem e a bela adormecida transformará o velho amargurado num adolescente apaixonado. Ironicamente, é uma moça que dorme, que o faz acordar para a vida, aos 90 anos de idade.
• Editora: Record
• Autor: GABRIEL GARCIA MARQUEZ
• Número de páginas: 132