segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Goodbye, George.

Há alguns meses, eu publiquei aqui no blog uma resenha sobre a obra “Um Livro por dia” (no original “Time was soft there”), de Jeremy Mercer, na qual ele relata sua experiência na Shakespeare and Company, pitoresca livraria situada no coração de Paris, ponto turístico obrigatório de toda pessoa que tem paixão por livros.

A resenha - e o livro - encantaram muita gente, não exatamente pela história contada pelo autor, que no fim dos anos 80 passou uma temporada na livraria, mas pela proposta do seu fundador, George Whitman: durante mais de meio século ele recebeu escritores e artistas pobres em sua charmosa livraria-hospedaria. Em troca, cabia aos hóspedes realizar pequenos serviços, produzir ali uma obra e ler “um livro por dia.”
Hoje, tardiamente, recebi informação do site da livraria (http://www.shakespeareandcompany.com/) de que dia 14 de dezembro passado o velho George escreveu o último capítulo de sua vida.

Ele, que continuou lúcido e lendo até o fim, em companhia de sua filha, Sylvia Whitman, seu cão e seu gato, acabara de completar 98 anos.
Todos sabiam da inevitabilidade do fato- era um senhor quase centenário e sua filha já assumira há anos o comando da Shakespeare and Company, onde Whitman ainda residia.
No entanto, não posso deixar de sentir uma pontinha de tristeza por saber que jamais terei a oportunidade de apertar a mão desse sonhador, excêntrico e enigmático que tanto contribuiu para o surgimento de grandes talentos da literatura contemporânea.
Rest in peace, George. And thank you.


O e-mail enviado pela S&C:

A new year has begun and on the first day of 2012 a double rainbow appeared over Notre Dame which was a spectacular start. We'd like to extend an enormous thank you for all of the support and love and messages of condolence after the passing of George Whitman, the founder of Shakespeare and Company. George touched the lives of so many book-lovers around the world. At the end of December, after his funeral at Père Lachaise, there was a joyful celebration of his life at the bookshop accompanied by music and stories from some of the many people who loved him.
As George said 'When I opened my bookstore in 1951 this area in the heart of Paris was a slum with street theatre, mountebanks, junkyards, dingy hotels, wine shops, little laundries, tiny thread and needle shops and grocers. Back in 1600 in the middle of this slum our building was a monastery with a frère lampier who would light thelamps at sunset. I seem to have inherited his role because for 50 years now I have been your frère lampier - the lamp-lighter who is hoping that someone else will come along to carry on his mission.'
George's daughter Sylvia is carrying on his mission.


O site da Forbes Magazine também dedicou, dia 28/12, longa matéria ao genial maluco, que se identificava com um personagem de Dostoyewsky e que se transformou no “mais famoso livreiro do mundo”.