terça-feira, 26 de junho de 2012

Uma Temporada no Inferno (Arthur Rimbaud)


Escrito pelo francês Arthur Rimbaud, "Uma Temporada no Inferno" (do original “Un Saison Enfer”) foi o único trabalho publicado pessoalmente pelo autor, em 1873. 
Tinha ele menos de 20 anos e, após uma breve e atribulada passagem pelo meio literário, decidiu abandonar a poesia para dedicar-se a fazer fortuna.
Posteriormente, alguns de seus trabalhos foram impressos e ele figurou ainda numa coletânea do poeta Paul Verlaine sobre os chamados "poetas malditos". Não sem razão. Rimbaud era considerado um prodígio, mas também um “enfant terrible” que vivia metido em confusões. Visionário e excêntrico, conquistou a fama de homossexual e arruaceiro. Recusava qualquer trabalho burocrático e defendia que o poeta deveria dedicar-se somente à poesia.
Rimbaud and brother.
Por ter entrado e saído precocemente do mundo literário, Rimbaud teve sua vida mais comentada que sua obra, como por exemplo o affair que teve com o poeta Paul Verlain. Este deixara a esposa para viajar com Rimbaud, escandalizando a sociedade francesa. Com um relacionamento regado a absinto e haxixe, durante uma discussão em 1872, o depressivo Verlaine fere Rimbaud com um tiro no pulso. Acaba preso e condenado - não pelo tiro, mas pelo suposto homossexualismo - que ambos negaram.  Em estado de desespero, Rimbaud parte para o nordeste da França, onde escreveu  "Uma Temporada no Inferno".
O resultado é  um longo poema (sem rimas e versos) dividido em 9 textos:  Uma Temporada no Inferno; Mau Sangue: Noite do Inferno; Delírios I - Virgem Louca, O esposo infernal; Delírios II - Alquimia do Verbo; O impossível; O clarão; Manhã e Adeus.
Carregado de angústia, lirismo, dor, realidade e fantasia, "Uma Temporada no Inferno" descreve a experiência de sofrimento ou confusão mental em que vivia  Rimbaud. Uma mistura de visões e pensamentos envolvendo a morte, o inferno, a paixão, o cristianismo, com passagens da história da França nos fins do século 19.  "Páginas feitas de meu diário de condenado",  como definiu o autor.
Aos leitores de primeira viagem, o texto de Rimbaud pode soar incompreensível. É preciso entrar em seu universo para compreendê-lo. Tentar sentir como ele, se permitir enxergar o que ele via, para enfim, perceber a qualidade literária de seus poemas. Lúcido ou genial, contestador ou profundamente cristão, a escrita de Rimbaud é sofrida e desesperada. Há registros de que ele tinha visões. Traços de loucura? Imaginação fértil? Efeitos do haxixe, do absinto? A pergunta fica no ar.
O certo é que com esse texto, Rimbaud criou uma linguagem nova, desconstruiu o verso alexandrino e elevou o poema em prosa à condição de grande poesia. Mudou assim, a história da literatura.

“Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos. 
Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. - E achei-a amarga."

“Detesto todos os ofícios. Chefes e operários, tudo campônios, ignóbeis. A mão na pena vale a mão no arado – Que séculos de mão! Não darei nunca a minha.”

“Não creio no inferno, pois estou nele. É a execução do catecismo. Sou escravo do meu batismo. Pais, fizeram a minha desgraça e a de vocês. Pobre inocente! O inferno não pode acometer aos pagãos!”

“Ah, isto! O relógio da vida parou há pouco. Não estou mais no mundo. – A teologia é séria, o inferno é sem dúvida embaixo – e o céu no alto.”

Paul Verlaine

Após a controvérsia com Verlaine, Rimbaud acabou quase que banido do meio literário. Decidiu entao abandonar a poesia para viver do tráfico de armas na África. Morreu aos 37 anos, depois de ter uma perna amputada por conta de um tumor não tratado a tempo.  
Embora tenha parado de escrever aos 21 anos, Arthur Rimbaud influenciou o surgimento da poesia moderna e os maiores escritores, artistas e músicos dos séculos XIX e XX. 
Disse Verlaine sobre ele: "Mortal, anjo e demônio, é o mesmo que dizer Rimbaud."


Uma Temporada no Inferno
Arthur Rimbaud
Tradução de Paulo Hecker Filho
74 páginas
LPM POCKET
2002

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Discurso do Rei (Mark Logue & Peter Conradi)

Um rei com um grave problema de gagueira. Um país em véspera da Segunda Guerra Mundial. E um autodidata terapeuta vocal com metodos alternativos e eficazes. Foi assim que o quase desconhecido Lionel Logue salvou a família real inglesa nas primeiras décadas do século XX. Essa é a história verídica contada no livro  
O Discurso do Rei: Como Um Homem Salvou a Monarquia Britânica, escrito pelo neto de Lionel, Mark Logue com a ajuda do jornalista Peter Conradi. Com base nos diários e arquivos de Logue, eles reconstroem a relação de surpreendente intimidade entre dois homens muito diferentes.
Gago desde os 4 anos de idade, Albert, filho do rei britânico, não consegue se livrar dos constrangimentos que acompanham suas manifestações verbais públicas. Depois de passar, sem resultado, por vários especialistas, ele já não tem tanto interesse em novas tentativas, até porque seu irmão mais velho, Edward VIII, é o primeiro na linha sucessória para assumir o trono no lugar de seu pai. No entanto, já casado e com duas filhas, Albert atende o pedido de sua esposa Elizabeth (mãe da atual rainha Elizabeth), de tentar um novo tratamento com um fonoaudiólogo nada convencional, Lionel Logue. O contato inicial é tenso e Albert não se sente à vontade com a terapia alternativa. Mas, aos poucos, com os primeiros resultados positivos, passa a confiar no profissional. É quando ele se verá diante de uma situação absolutamente inusitada: seu irmão Edward, que assumira o trono por ocasião do falecimento de seu pai, abdica da coroa para casar-se com uma norte-americana divorciada. Fatalmente, Albert deverá assumir seu lugar, o que significa não apenas tornar-se rei, mas  ter todos os olhos e ouvidos do reino atentos a seus movimentos, atos e palavras. O momento não poderia ser mais delicado: vésperas da Segunda Guerra Mundial. Como poderia Albert, nomeado rei George VI, gaguejar diante de seu povo justamente na hora em que  mais se espera determinação e firmeza?
O verdadeiro Rei George VI, com filhas e a rainha Elizabeth I.
         Juntamente com a terapia, que envolve exercícios e técnicas incomuns, cresce a amizade entre Albert e Lionel.  O terapeuta ajuda a aumentar a  autoestima do rei e constrói uma segurança  nunca alcançada. O momento máximo de vitória acontecerá num belo discurso proferido com firmeza, sonoridade e clareza para uma população emocionada.

      

O verdadeiro discurso do rei.


Em 2010 foi lançado o filme "O Discurso do Rei", que deu a Collin Firth o Oscar de melhor ator por sua auação como o rei George VI.

Livro: O Discurso do Rei
Editora: José Olympio
Autor: MARK LOGUE & PETER CONRADI
Ano: 2011
Edição: 1
Número de páginas: 192