Ela
começou a coletar esses relatos em 1989, quando apresentava o
programa de rádio “Palavras na brisa noturna” e uma ouvinte, que
se autointitulava “Waiter, uma mãe em agonia”, escreveu contando
sua história. Anos depois, já radicada em Londres, decidiu reunir
em um livro testemunhos semelhantes, de mães que tiveram que abrir
mão de suas menininhas. Juntamente com o depoimento de duas oficiais
de adoção - Mary Verde e Mary Vermelha -, e uma velha parteira, as
histórias traçam um retrato brutal da política do filho único na
China.
Ao
leitor, é bom que se alerte – são histórias impressionantes e
assustadoras. Impossível lê-las,sem um sentimento de angústia e
indignação por tantas vidas desperdiçadas.
Necessidade
premente nos anos 80, para conter o aumento populacional, a política
do filho único gerou resultados catastróficos. Numa cultura que
acredita ser “dever sagrado” da mulher produzir um herdeiro
homem, a imposição acabou abrindo uma ferida incapaz de ser
fechada. Crianças abandonadas por seus pais em estações de metrôs
e orfanatos, entregues à própria sorte. Ou ainda, sufocadas ao
nascer, pelo simples fato de serem meninas.
“As mulheres
chinesas, desde o inicio dos tempos jamais tiveram direito a suas
próprias historias. Elas viviam na camada inferior da sociedade.
Esperava-se delas obediência inconteste e elas não tinham meios de
construir a própria vida. Isso se tornara tão natural que a maior
parte das mulheres só desejava duas coisas: não dar a luz filhas
mulheres nesta vida e não renascer como mulher na próxima.”
Sendo
ela mesma uma órfã de pais vivos, pois cresceu em internatos e não
se lembra de ter comemorado sequer um aniversário com eles, ocupados
demais em servir a Revolução Cultural, a impressão que se tem é
que esse livro serve também para a autora acalentar o próprio
coração.
Em
meio a casos que beiram a tragédia, perguntas sem resposta e feridas
que não cicatrizam, talvez não importe tanto se essas mensagens alcançarão a menina certa ou se conseguirão aplacar a dor eterna
dessas mães.
O importante mesmo é que a historia delas foi escrita.
Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida.
Autora: Xinram
Tradutora: Caroline Chang
Editora: Companhia das Letras
Publicação: 2011
Páginas: 272
"Coisa miserável,
ResponderExcluirsuspiro de angústia
enchendo o espaço,
vontade de chorar,coisa miserável,
miserável(...)"
Drummond
Oi,Dani. Versos tristes como triste é a história do livro, não? Obrigada pela visita!
ResponderExcluirPor que eles, nao movem uma acao? enviando esses pequeninos pelo mundo para adocao?? tantas familias desejariam criar uma filha! :-( e tambem a mae dessa crianca concerteza, se sentiria menos triste. eu acho que eu morria em ver uma coisa dessas com minha cementinha. :-( por que as maes nao fazem uma, ultra para saber o sexo? assim elas poderia fugir ou programa um futuro melhos para suas criancas. isso e muito triste! ninguem faz nada? isso nao pode ser, assim. :'( que tristeza!
ResponderExcluirAmiga, a sua perplexidade é a mesma que eu tive. Essa cultura vem de décadas, e muitos relatos dali aconteceram nos anos 80. Eu penso que isso ainda acontece na China,porém com menos intensidade.Ao menos quero crer. Mas me assusta que para eles, aqueles assassinatos fossem corriqueiros. Isso é monstruoso, muito triste! A autora empreendeu uma campanha para levar esse drama para o mundo, você pode ler mais sobre isso na internet. Abraços!
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