
Hoje, dia chuvoso, aproveito pra viajar à minha infância. Como já mencionei anteriormente, o primeiro livro que ganhei na vida foi Ou isto ou aquilo, seleção de belíssimos poemas da igualmente belíssima Cecília Meirelles (1901 – 1964). Veio numa edição branquinha cheia de ilustrações, pelas mãos do meu querido avô e anjo Guilherme Santos Neves. Ele foi um homem cultíssimo, sensível, inteligente e carismático, advogado, professor de português, escritor, folclorista, ufa...e uma infinidade de outras coisas. Mas, sobretudo, um ídolo da minha vida. Ele não apenas me abriu as portas para o mundo da literatura como também me incentivava a escrever. Já naquela época, mandou publicar no jornal A Gazeta dois poemas que escrevi aos 8 anos, que tenho até hoje. E Cecília?
Bom, Cecília me fez entrar no mundo mágico das rimas, das cores que a poesia pode ter. Nesse livro, que é uma viagem através do país da infância, ela brinca com burrinhos azuis, meninas que querem ser bailarinas, fala de duas velhinhas, Marina e Mariana, inventa um jardim de cores, com borboletas de muitas cores, nos faz escolher entre isso ou aquilo e, num dos poemas mais lindos do livro, que recitei e recito até hoje, para meus filhos, fala de três meninas que viviam naquela janela. Uma que se chamava Arabela, outra que se chamou Carolina. E Maria, que apenas sorria dizendo: bom-dia. A simplicidade do poema marcou minha infância, como creio que marcou a de muita gente.
Em tempos de Harry Potter, Diário de uma Princesa e infinitas outras séries de livros, que bom seria se nós adultos lembrássemos de presentear nossos pequenos leitores com livros menos consumistas e mais singelos,como toda infância deveria ser.

Ou se tem chuva e não se tem sol,
Ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel;
Ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!