
Tinha ele menos de
20 anos e, após uma breve e atribulada passagem pelo meio literário, decidiu abandonar
a poesia para dedicar-se a fazer fortuna.
Posteriormente, alguns de
seus trabalhos foram impressos e ele figurou ainda numa coletânea do poeta Paul
Verlaine sobre os chamados "poetas malditos". Não sem razão. Rimbaud era considerado um
prodígio, mas também um “enfant terrible” que vivia metido em confusões.
Visionário e excêntrico, conquistou a fama de homossexual e arruaceiro.
Recusava qualquer trabalho burocrático e defendia que o poeta deveria
dedicar-se somente à poesia.
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Rimbaud and brother. |
O resultado é um longo
poema (sem rimas e versos) dividido em 9 textos: Uma Temporada no Inferno; Mau Sangue: Noite do Inferno; Delírios I
- Virgem Louca, O esposo infernal; Delírios II - Alquimia do Verbo; O
impossível; O clarão; Manhã e Adeus.
Carregado de angústia, lirismo,
dor, realidade e fantasia, "Uma Temporada no Inferno" descreve a
experiência de sofrimento ou confusão mental em que vivia Rimbaud. Uma
mistura de visões e pensamentos envolvendo a morte, o inferno, a paixão, o
cristianismo, com passagens da história da França nos fins
do século 19. "Páginas feitas de meu diário de
condenado", como definiu o autor.
Aos leitores de primeira
viagem, o texto de Rimbaud pode soar incompreensível. É preciso entrar em seu
universo para compreendê-lo. Tentar sentir como ele, se permitir enxergar o que
ele via, para enfim, perceber a qualidade literária de seus poemas. Lúcido ou
genial, contestador ou profundamente cristão, a escrita de Rimbaud é sofrida e
desesperada. Há registros de que ele tinha visões. Traços de loucura?
Imaginação fértil? Efeitos do haxixe, do absinto? A pergunta fica no ar.
O certo é que com esse texto, Rimbaud criou uma linguagem nova, desconstruiu o
verso alexandrino e elevou o poema em prosa à condição de grande poesia. Mudou
assim, a história da literatura.
“Antigamente, se bem me
lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual
corriam todos os vinhos.
Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. - E
achei-a amarga."
“Detesto todos os ofícios. Chefes e operários, tudo campônios, ignóbeis.
A mão na pena vale a mão no arado – Que séculos de mão! Não darei nunca a
minha.”
“Não creio no inferno, pois
estou nele. É a execução do catecismo. Sou escravo do meu batismo. Pais,
fizeram a minha desgraça e a de vocês. Pobre inocente! O inferno não pode
acometer aos pagãos!”
“Ah, isto! O relógio da vida
parou há pouco. Não estou mais no mundo. – A teologia é séria, o inferno é sem
dúvida embaixo – e o céu no alto.”
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Paul Verlaine |
Após a controvérsia com
Verlaine, Rimbaud acabou quase que banido do meio literário. Decidiu entao abandonar a
poesia para viver do tráfico de armas na África. Morreu aos 37 anos, depois de
ter uma perna amputada por conta de um tumor não tratado a tempo.
Embora tenha parado de
escrever aos 21 anos, Arthur Rimbaud influenciou o surgimento da poesia moderna
e os maiores escritores, artistas e músicos dos séculos XIX e XX.
Disse
Verlaine sobre ele: "Mortal, anjo e demônio, é o mesmo que dizer Rimbaud."
Uma Temporada no Inferno
Arthur Rimbaud
Tradução de Paulo Hecker Filho
74 páginas
LPM POCKET
2002
Oi Mari,
ResponderExcluiracabo de descobrir seu "Todo Livro...". Vou linká-lo no meu Caótico. Eles tem tudo a ver um com o outro.
Inácio, obrigada pela visita. Tem razão, farei o mesmo no seu blog. Ando acamada mas breve estarei postando novas resenhas. Abs.
ExcluirPor favor o que você tem sobre "O baile dos enforcados" do Rimbaud, não encontro quase nada. (Vinicius de Melo)
ResponderExcluirInfelizmente, não tenho em minha biblioteca, pois a obra dele é bem curta (embora intensa). Encontrei o seguinte trecho: "Longe de uma visão lúcida sobre um conflito armado, o que podemos esperar de Rimbaud é uma visão simbólica sobre a morte, como no poema gótico “O baile dos enforcados”, variação cínica sobre uma canção carolíngia que homenageava os soldados paladinos (e que também tinha sido retocada, um pouco antes, por Baudelaire). Assim começa: “Na forca negra, amável maneta/ Dançam, dançam os paladinos/ Magros paladinos do diabo/ Esqueletos de Saladino”. Em seguida, o fidalgo Belzebu começa a brincar com os esqueletos com a corda da forca e, como um titeteiro, chacoalha de um lado para o outro seus “capitães fúnebres”, esses “alegres dançarinos sem pança”, até que não se saiba mais se é “batalha ou dança”… Rimbaud “canta” a guerra com tradicionais imagens medievais de inferno e morte (e que fazem lembrar as gravuras sinistras que vemos na Idade de Média ilustrando a peste, a fome e a guerra). Tudo está lá: o esqueleto, o diabo, o vento sonoro, o céu sombrio, essa assustadora visão do inferno, em que a Terra toda parece exalar o cheiro de morte". (Fonte:http://bolivartorres.wordpress.com/2008/09/24/guerra-e-rimbaud/) Abraços.
ExcluirPrezada Maria Santos Neve parabéns pelo blog. Bonito layout e interessante conteúdo. Sou seu seguidor. Escrevo alguns poemas como Contas do Amor, Intoxicado e outros, mas não me considero um poeta. Poetas são ilustres que estão acima de meu nível (escritor). Se puder visite-me http://www.nossoslivrosfree.com.br/
ResponderExcluirDesejo-lhe felicidades.
Robert Thomaz
Interpretaram mal, são ignorantes não compreendem um palmo na sua frente eu sei.... a literatura é um oceano infinito as ideologias surgem da falta de compreensão... la nave vá
ResponderExcluirÓtimo blog, me ajudou muito com uma pesquisa de escola, Rimbaud foi gênial nesse poema deixando os poemas dessa época mais modernos.
ResponderExcluirObrigada! Fico muito feliz de ter ajudado" Rimbaud foi moderno demais para sua época.
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