segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A cruz de Joseph Ratzinger

Com uma capa impactante, que mostra a imagem solitária e cabisbaixa de Joseph Ratzinger sobre fundo preto e um título, no mínimo, instigante, O Homem que não Queria Ser Papa, publicado pouco tempo após a renúncia do pontífice, promete responder à pergunta que não quer calar: - Por que Bento XVI renunciou ao posto mais importante da Igreja Católica, um feito tão inusitado e raro que o último a fazê-lo foi Gregório XII, há mais de sete séculos?
Numa mistura de biografia e relato jornalístico com toques de romance, Andreas Englisch descreve e analisa, em 576 páginas os oito anos de papado de Bento XVII. Mas não se atém a enumerar possíveis motivos da renúncia. Antes, conduz o leitor a um passeio pelo Vaticano, um estado teocrático dentro da cidade de Roma. Também relata fatos ocorridos em outros papados, em especial o do antecessor de Ratzinger, João Paulo II. De quebra, apresenta um painel de como funciona a máquina do Vaticano, especialmente seu departamento de Comunicação e Imprensa.
Há mais de vinte anos correspondente internacional, o autor, descreve com bom-humor (e uma pontinha de vaidade) suas peripécias na cobertura de eventos papais. Em certo ponto, nos leva a imaginar que ser repórter no Vaticano é praticamente a mesma coisa que ocupar cargo semelhante no Palácio de Buckingham de Londres ou na Casa Branca, em Washington. Cumpridos os protocolos e exigências, acaba sendo uma atividade jornalística como outra qualquer: cobrir viagens internacionais, participar de coletivas de imprensa, lutar pela melhor foto, a matéria mais impactante ou uma revelação surpreendente. Logo no início do livro acompanhamos o autor em diversas situações no cumprimento do dever:  aflito na primeira audiência, sonolento em outra ou muito febril no evento seguinte. 
Paralelo à descrição da vida do Papa, suas atividades cotidianas, problemas e desafios, o autor dá uma aula sobre como funciona o Vaticano. E fala – e muito – sobre o antecessor de Bento XVI, o carismático, midiático e amado João Paulo II.Referindo-se ao ex-papa pelo seu nome de batismo, Karol Wojtyla, cita as inúmeras diferenças entre um e outro, no que se refere a comportamento e personalidade. E mostra o quão difícil, desafiador e desgastante foi, para Bento XVI, ocupar o vazio deixado pelo seu antecessor.  Um Papa que – como nenhum outro – atraíra olhares do mundo inteiro, independente da crença ou falta dela. Ser o sucessor de um pontífice que conquistou a proeza de agradar a gregos e troianos, russos e americanos, tanto o mundo ocidental quanto o oriental. Que iniciou um diálogo com as outras religiões e seus líderes; e cujo prestígio foi tão grande que se tornou peça fundamental na derrocada do comunismo. 
Junte-se a isso o fato de que João Paulo II e Bento XVI eram figuras diametralmente opostas. Um, carismático e sorridente. O outro, circunspecto e sisudo. Um comunicativo e integrado, o outro, um teólogo radical. Um polonês, nascido num país que vergou sobre o peso do III Reich. O outro, um alemão que fez parte da juventude hitlerista (como era comum na época). Uma pecha que Ratzinger carregou durante todo o seu pontificado. Afinal, como o próprio Englisch, que é alemão, reconhece, o mundo ainda não conseguiu perdoar os crimes do nazismo.
Se Karol Wojtyla ficou conhecido como o Papa da Globalização, Bento XVI será lembrado como o Papa tímido, que nunca sabia o que fazer diante das multidões. Em certa feita, em visita oficial à Polônia, caminhou em direção a uma Igreja, sem sequer dirigir um aceno, à multidão que o aclamava. Em outro episódio, na Jordânia, ao passar por um local onde supostamente Jesus teria pisado, nem sequer desceu do veículo.
Descaso? Não. Simplesmente a adoração a lugares ou objetos não condiz com a visão que ele tem do sacerdócio. Como bem define o autor, Ratzinger era um teólogo da Bavária e teria preferido passar a vida inteira rodeado de livros, escrevendo seus artigos e defendendo a Igreja à moda antiga. Jamais imaginara tornar-se um papa.
Prova disso está na revelação do próprio papa de que ao ouvir seu nome ser anunciado no conclave, sentira “como se centenas de lanças tivessem sido cravadas em sua cabeça”. “Certamente” – cita Englisch – “poderia prever o desafio a que seria submetido”. Muitos e graves acontecimentos aos quais deveria prestar contas, como os casos de pedofilia envolvendo bispos e padres, que agora começavam a explodir em toda parte. Ratzinger nada poderia fazer para evitar que o assunto viesse à tona. Fora ele, como cardeal, um dos que mais cobrara do então papa João Paulo II providências para que a sujeira não ficasse escondida. Era ele, agora, como papa, que deveria pôr a mão na ferida.
Um a um, Englisch enumera os escândalos ocorridos no papado de Bento XVI: relatos de orgias homossexuais em seminários religiosos; um assassinato cometido dentro do Vaticano (o chefe da guarda suíça, que faz a segurança do Papa, foi morto junto com sua esposa, supostamente por um membro que cometeu o suicídio em seguida); a descoberta de que um dos mais notórios cardeais era um pedófilo que fez dezenas de vítimas e ainda assim não foi afastado do cargo. Sem contar nas passagens em que fica muito claro que a cúpula do Vaticano jogava contra o papa, deixando –o a mercê de situações constrangedoras, diante de perguntas capciosas de jornalistas.
Homem de letras, intelectual e defensor da Igreja tradicional, Joseph Ratzinger, definitivamente não era um homem talhado para enfrentar multidões ou câmeras de TV. Desconfortável no cargo, ainda assim, ele foi responsável por um dos grandes momentos da Igreja nos últimos anos, quando encarou verdades que seus antecessores nunca assumiram. Foi dele a decisão de ouvir pessoalmente o relato de vítimas de pedofilia na Igreja. Um dos gestos mais humanos de seu papado.  
Durante a leitura de "O Homem que Não Queria Ser Papa" nos alternamos entre a admiração ao ex-papa e a irritação com o jornalista-autor.
Ainda que tenha produzido um valioso registro do papado de Bento XVI, Andreas Englisch deixa escapar nas entrelinhas que nunca foi muito fã de Ratzinger, desde os tempos em que ele era cardeal. No entanto, como bom jornalista que é, descreve  a humildade e o senso de dever com que ele enfrentou a missão que lhe foi confiada. 
Mesmo não respondendo a todas as perguntas e apesar de alguns diálogos rocambolescos, dignos de O Código Da Vinci, este livro tem o mérito de mostrar como o homem Joseph Ratzinger enfrentou o maior desafio de sua vida. E sua coragem de renunciar, quando considerou a cruz pesada demais para um simples “teólogo da Bavária”.

O Homem que Não Queria Ser Papa

Andreas Englisch
Universo dos Livros

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A Casa de Virginia Woolf.

Muito pouco resta a ser dito ou escrito sobre Virginia Woolf (1882-1941). Romancista, crítica literária e ensaísta, uma das pioneiras do modernismo britânico, dona de um estilo único e uma escrita poderosa, escreveu obras memoráveis como Mrs Dalloway, As Ondas, Orlando e o ensaio Um Teto Todo Seu, contribuindo para a valorização da voz  feminina na literatura.Mulher a frente de seu tempo, no sentido menos piegas da expressão, fundou com o marido, Leonard Woolf, a Hogart Press, que se tornou uma das mais influentes editoras britânicas do século XX. 
Ambos faziam parte do seleto Grupo Bloomsbury, formado por intelectuais sofisticados, que introduziu um novo pensamento literário na Inglaterra, em oposição à tradição vitoriana. Com um casamento atípico e feliz, marcado por cumplicidade, respeito e liberdade, Virginia viveu várias e intensas paixões por mulheres. Mais do que amá-las, aparentemente o que mais gostava era o fato de ser amada por elas.
Leonard & Virginia Woolf
Mas a parte mais marcante de sua personalidade era menos feita de sonhos que de pesadelos. Com episódios frequentes de alucinações e crises depressivas, vivia entre a loucura e a genialidade, entre a apatia e a produção, entre a paixão e a melancolia. Pouco à vontade no mundo, buscava nos livros um refúgio e na literatura uma salvação. E tinha tanto medo de enlouquecer que acabou pondo fim à vida em 28 de março de 1941, aos 59 anos, jogando-se no Rio Ouse. Sua carta despedida sugere que estava assim libertando o marido de um futuro sombrio ao seu lado. 
Contudo, havia uma Virginia, mais precisamente a do lado de dentro de casa, que entre trechos de romance e visitas de amigos/as ou períodos de depressão, se dedicava à prosaica tarefa de dar ordens às criadas Nelly Broxall e Lottie Hope; e decidir o menu do jantar.
É essa a Virginia retratada pela escritora espanhola Alicia Giménez Bartlett, em A Casa de Virginia W. Um romance que expõe a relação tumultuada entre a escritora e Nelly Broxall, que trabalhou para os Woolf por 18 anos. Um relacionamento cordial no início, delicado com o passar dos anos e perigosamente nocivo no final. 
A ideia do livro surgiu quando Giménez, estudiosa do grupo Bloomsbury e seus protagonistas, debruçada num dos diários de Virginia, se deparou com o seguinte trecho: “Se este diário tivesse sido escrito por mim e um belo dia caísse em minhas mãos, eu tentaria escrever um romance sobre Nelly, a personagem. Toda a história entre nós duas, os esforços de Leonard e meus por nos livrarmos dela, nossas reconciliações.”
Resolveu então atender a esse “chamado”.
Pesquisando sobre o paradeiro de Nelly, acabou descobrindo em Londres uma certa Lady Prudence, que havia arrematado o diário da criada em um leilão. Conseguiu dela a autorização para fotografar as páginas, desde que não as usasse na totalidade. Promessa feita, desafio encaminhado. 
Alternando imagens reconstruídas de episódios extraídos das diversas biografias da escritora, com trechos dos diários de patroa e empregada, Bartlett nos revela o mundo doméstico de Virginia Woolf. As conversas triviais com as criadas, a escolha do cardápio do dia, encontros com amigos e suas constantes crises depressivas. Durante todo o livro, as vozes se alternam. Ora um diálogo recriado entre Virginia e Nelly sobre o significado do voto feminino (na época aprovado com inúmeras restrições); ora um trecho do diário da criada com reflexões sobre a falta de perspectiva de sua vida; num momento, um panorama das dificuldades pelas quais passava a Inglaterra em tempos de guerra; em outro, a voz da própria Alicia que se faz ouvir, com colocações sobre Virginia, sobre Nelly – e o tempo chuvoso de Londres!

 “Eu gosto quando a patroa está contente e não aguento quando a vejo com aquele olhar tão triste que se perde no ar. A patroa está completando 36 anos.”

“A patroa está de cama há quatro dias. Quando tem gripe ela nunca se levanta antes de uma semana. Isso também me entristece.”

Na recriação de autora, visualizamos uma atarantada serviçal, não muito inteligente, mas não de todo ignóbil, que soube tirar proveito do contato com os patrões intelectuais e seus amigos para ampliar seus pensamentos e visão do mundo. Nos jantares na casa de Virginia e Leonard era comum se encontrar artistas e intelectuais como Roger Fry, Katherine Mansfield, Vanessa Bell (irmã de Virginia) e a poetisa Vitta Sackville-West, com quem ela teve um forte affair que inspirou a obra Orlando, descrita por Nigel Nicholson como "a mais longa e mais encantadora carta de amor de toda a literatura".

“Ontem chegou a honorável Sra Vitta Sackville-West também chamada Sra Nicholson que passará toda a semana conosco em Monk´s House. É a primeira vez que eu vejo uma honorável. Não saberia dizer se ela é bonita ou não.”

Os hábitos inusitados do casal Woolf e as ideias avançadas do grupo não escapam ao olhar atento e espantado das criadas:

“Meu Pai eterno, ri tanto que achei que muitas costelas iriam se partir! Imaginei tudo desde o princípio, desde que Lottie veio porta adentro com os olhos arregalados e me disse que eles tinham começado a falar da Sociedade Britânica do Sexo. Estava escandalizada, sobretudo, porque haviam falado na sua frente, quando ela preparou a mesa para servir o chá.”

Embora aprendesse muito com o convívio com os patrões, Nelly delimitava uma linha imaginária que a separava do mundo deles. Jamais teria uma casa, dificilmente teria um casamento e ainda que o tivesse (como a própria patroa dizia), provavelmente seria mais uma escrava do marido, trabalhando sem receber.

- Então uma mulher não deve se casar nunca?”
- Não sei, Nelly, não sei, talvez em tempos menos complicados, ou com um homem que ele possa oferecer algo melhor.
O fato é que Nelly rompeu um noivado com um homem bastante simples e nunca se casou.

Reunião do Grupo Bloomsbury
Com o tempo, nos diários de Nelly e de Virginia, Alicia descobre menções a respeito de incidentes domésticos, percebendo as transformações pelas quais passa o relacionamento. Nelly torna-se mais questionadora, Virginia mais impaciente. Nelly se comporta de forma crítica e irônica. Virginia mantém-se distante, quase indiferente. Muito embora a animosidade se alternasse com fases de tranquilidade, o fato é que a relação entre as duas parecia prestes a explodir.
Entre diversas reflexões, Bartlett busca analisar, aos olhos de Nelly, o envolvimento de Virginia Woolf com suas amigas. “É inútil tentar saber se entre Virginia Woolf e Vitta Sackville-West houve algo maior que um amor espiritual baseado na fascinação mútua. Há biógrafos que se inclinam por essa opção e outros que sustentam que entre ambas houve contato sexual. (...) Lendo o diário de Nelly, também não podemos encontrar alguma luz sobre a índole desse amor. Mas isso pouco importa para minha reconstrução da vida de Nelly. O fato evidente é que aquela relação escandalizava a cozinheira , e não porque fosse algo diferente daquilo a que os membros do grupo a tinham acostumado, mas pela vergonha pública que representava para Leonard Woolf. Curioso.”
Monk´s House (A Casa de Virginia Woolf)

Com base no livro, não causa estranheza o comportamento da criada. Para alguém como ela, que nada possuía de seu no mundo (nem mesmo o quarto em que dormia), sem perspectiva de ascensão, seria quase impossível não acalentar ressentimento pela patroa, bem nascida, intelectual e que tendo a sorte de um bom casamento, não valorizava tal destino. 

Aos olhos de Nelly, limitada em seu mundo de poucos sonhos, esta era possivelmente a maior afronta de Virginia: 

Ter a coragem de viver como queria e da forma a qual acreditava.
Quanto a Virginia Woolf, sempre imersa em seus trabalhos, reflexões (e crises) era provável que o temperamento agitado e atrevido da criada lhe provocasse mais cansaço do que repulsa.  A própria Nelly se queixa à Lottie: “Preferia que ela brigasse, não que ficasse com essa expressão de vítima no olhar”.
Para a circunspecta Virginia, devia ser mesmo complicado conviver com  os rompantes de urgência de Nelly, que a retirava de seu processo de sonho (a criação, a intelectualidade) para lembrar que faltavam legumes na despensa e que o preço do peixe estava caro.
Duas mulheres tão diferentes, tão perigosamente opostas, que é de se admirar que tenham convivido durante tanto tempo.

A CASA DE VIRGINIA W.

ALICIA GIMÉNEZ BARTLETT
EDIOURO

terça-feira, 11 de junho de 2013

O Amor está no ar. E nos livros.

Em homenagem ao Dia dos Namorados, dez livros nos quais o amor está presente. A começar pelo título. 

1 - Do Amor – Stendhal
Escrito em 1820, neste livro, o autor francês Stendhal se propõe a fazer uma análise da natureza do sentimento amoroso e dos diversos aspectos de que ele se reveste. Como surge, o que transforma um sentimento de simpatia numa paixão avassaladora e qual o papel do ciúme. Para isso, partiu de sua própria experiência pessoal, uma desilusão amorosa. Nessa obra, Stendhal lança uma ideia que se tornaria célebre – a da cristalização amorosa. Segundo ele, a pessoa apaixonada cristaliza-se, paralisa-se, perdendo a capacidade de agir racionalmente, especialmente quando na presença de seu objeto amoroso. O livro se baseia na desilusão amorosa experimentada pelo autor em 1818, quando se apaixona por Matilde Dembowski, uma bela mulher, casada com um oficial de exército polonês. Seguindo-a numa viagem ao exterior, Stendhal provoca a ira de sua amada, que acaba rompendo a relação. O próprio autor chegou a nomear o livro “Do amor e das diversas fases dessa doença.”
“As pessoas felizes no amor têm aspecto profundamente atento, o que, para um francês, significa profundamente triste.”
“Há um prazer delicioso em apertar nos braços uma mulher que lhe fez muito mal, que foi sua cruel inimiga durante muito tempo e que está pronta para continuar a sê-lo. ”
2) Para Viver um Grande Amor – Vinícius de Moraes.
Quem senão ele, autor de versos inesquecíveis como “Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, para cantar o amor em suas diversas formas?Vinícius de Moraes, falecido em 1980, foi um homem apaixonado no verdadeiro sentido da palavra, sentimento que aqui não se limita apenas às mulheres de sua vida (casou-se oito vezes), mas à própria vida, a arte, a poesia e os amigos.  Publicado pela primeira vez em 1962, Para viver um grande Amor alterna poesia e prosa, versando sobre os mais diversos temas, em especial, seu preferido: o amor. A primeira edição do livro, tem dedicatória para Lucinha, a terceira mulher do poeta.
“Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor”.

3) O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez.

Inspirado na história de amor vivida por seus pais, Gabriel Garcia Márquez oferece aos leitores
uma das maiores obra-primas da literatura contemporânea. O Amor nos Tempos do Cólera tem como tema o romance de Florentino Ariza e Fermina Daza, que demora mais de meio século para se concretizar. Apaixonado pelas tranças de Fermina, o jovem Florentino passa a enviar-lhe cartas apaixonadas, mas o romance é frustrado pela oposição do pai da moça, que a envia para uma temporada no interior. Ao retornar, atendendo à vontade paterna, Fermina casa-se com o médico Juvenal Urbino, que chegara para combater a epidemia do cólera na cidade. O casamento dura 50 anos, até a morte do doutor (um dos melhores capítulos do livro). O amor de Florentino, porém, persiste a vida inteira. Segundo García Marquez, este romance foi escrito "com as entranhas”. E é assim que esse romance chega ao leitor: arrebatador. Mais do que O Amor nos Tempos do Cólera, esta é, na verdade, uma história sobre todos os amores, de todos os tempos.
"Florentino Ariza, por outro lado, não deixara de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinqüenta e um anos, nove meses e quatro dias."

4) Querido Scott, Querida Zelda - As Cartas de Amor de Scott e Zelda Fitzgerald.
Coletânea organizada por Jackson R. Bryer e Cathy W. Barks,  este livro reúne mais de 300 cartas e telegramas trocados entre o escritor norte-americano Scott Fitzgerald e sua esposa Zelda, revelando a paixão vivida por duas pessoas vulneráveis ​​ que não sabiam (ou queriam) viver sem a outra. As primeiras cartas datam de 1918, ano em que o casal se conheceu, e as últimas de 1940, quando Fitzgerald morreu, de ataque cardíaco.A relação tumultuada dos dois influenciou a maior parte das obras dele e a única dela - Esta valsa é minha. Levando uma vida cheia de altos e baixos, o casal mudou-se várias vezes e acabou fixando residência em Paris, em 1924, onde tiveram contato com escritores americanos como Gertrude Stein e Ernest Hemingway, entre outros da chamada “geração perdida”. Nas cartas, percebem-se as sucessivas brigas e reconciliações do casal, os problemas de alcoolismo de Fitzgerald e os indícios  progressivos da doença mental de Zelda. Só não dá pra dizer que eles não se amaram.
Para minha querida mulher, minha doce e adorada
Baboo, sem cujo amor e ajuda
nem este nem qualquer outro livro
seria jamais possível. 
De mim, que a amo mais
a cada dia que passa, com o coração
transbordando de veneração por esse ser adorável.

 (Dedicatória de Scott para Zelda em seu segundo romance, Belos e Malditos)
5) Cem Sonetos de Amor - Pablo Neruda
Uma das maiores vozes da poesia mundial do século XX, o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) alternou uma vida de engajamento com  a causa da liberdade e os devaneios de uma alma lírica e apaixonada. Obra que emociona seus leitores há várias gerações, este livro traz os principais poemas de Neruda, que conquistou o Prêmio Nobel de Literatura de 1971. Dividido em quatro partes - manhã, meio-dia, tarde e noite,  tem como tema central o amor e foi dedicado a Matilde Urrutia, sua última musa."Com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância (...)" 

Soneto LXVI

"Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não te querer eu quero
e de esperar-te quando não te espero
passa o meu coração de frio ao fogo.
Te quero só porque a ti eu quero
do ódio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida de meu amor viajante

é não ver-te e amar-te como um cego."











6) Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco
Representante luso nesta seleção, Camilo Castelo Branco oferece nesta novela, publicada em 1862, a  história de amor entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque A obra destaca o choque entre duas gerações – os pais que se odeiam – os fidalgos Tadeu de Albuquerque de Domingos Botelho e o jovem casal que se ama, Teresa e Simão. Com forte oposição da família, Teresa é enviada a um Convento para ser afastada do amado e as consequências são irremediáveis. Bem ao estilo de Romeu e Julieta, esse romance tornou-se um  marco no romantismo Português.


7) De Amor e de Sombras - Isabel Allende
O segundo romance da escritora chilena Isabel Allende  nos transporta para um país da América Latina que vive sob o jugo de uma ditadura militar encabeçada pelo anônimo General, designação que nos remete ao ditador Pinochet.
Irene Beltran, uma jornalista proveniente de uma família abastada, e Francisco Leal, um fotógrafo filho de um professor Marxista, se deparam com uma sepultura coletiva, onde foram despejados os corpos das pessoas torturadas e assassinadas pela polícia. E se enveredam por uma corajosa investigação em busca da verdade, numa nação mergulhada em terror e com seu amor crescendo à sombra da morte.
Segundo a autora, ela  escreveu "De amor e de sombras" para que o tempo não apagasse "a história de uma mulher e de um homem que se amaram plenamente, salvando-se assim de uma existência vulgar". 

8) Amor é Prosa, Sexo é Poesia - Arnaldo Jabor
Publicado pela primeira vez em 2004, este livro reúne 36 crônicas em 197 páginas, recheadas de ironia e bom humor, uma rabugice saudosista e um romantismo melancólico, próprio do autor. Em “Amor é prosa, sexo é poesia”, a relação amorosa aparece em vários momentos, principalmente na crônica que dá origem ao título do livro, na qual  o autor faz uma comparação entre o amor e o sexo, defendendo que, em sua opinião, embora se complementem, estes não são iguais. E por que seriam?
“O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo. Sexo é contra a lei. O amor vem depois. O sexo vem antes. O amor sonha com grande redenção. O sexo só pensa em proibições. Amor é casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; o sexo é o MST. Amor é um texto. Sexo é esporte. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval”.
9) Amor - Isabel Allende 
Ao completar 70 anos no ano passado, a escritora chilena Isabel Allende, atendendo à sugestão de seu editor, celebrou seu aniversário reunindo num livro  de contos as principais cenas de amor de seus romances. O livro, que não poderia ter outro nome, é dividido por temas, e em cada um deles, há uma seleção de textos que abrange vários títulos, entre eles "A Ilha sob o Mar", "Filha da Fortuna", "A Soma dos Dias" e "A Casa dos Espíritos". E para tornar essa escolha mais especial, a autora explica o motivo da escolha dos trechos. O recado é claro: Atreva-se a amar. 
"Passei minha vida apaixonada, não me recordo de uma época em que não estivesse amando, mas mesmo assim, o amor é mais fácil na literatura". "Por sorte, tenho a escrita, onde posso viver todas as aventuras que na vida real não poderia fazer nos meus pensamentos".
10) Do Amor e Outros Demônios - Gabriel García Marquez
Publicado em 1995, esta obra traz todos os ingredientes que compõem uma história de Gabriel Garcia Márquez. Baseia-se em um acontecimento por ele vivenciado, misturando elementos da mitologia popular e uma tocante crítica à intolerância religiosa. E, principalmente, mistura amor e sofrimento, como se ambos fossem sentimentos indissociáveis. O livro tem inspiração em seus tempos de repórter em 1949, quando, ao cobrir a remoção das criptas funerárias de um Convento, depara-se com uma ossada com cabelos cor de cobre, de aproximadamente 22 metros. Recorda-se então da lenda contada por sua avó sobre uma marquesinha do Caribe, de longa cabeleira, que morrera mordida por um cão. Anos depois, o Gabo recria a história da menina, brindando-nos com uma dolorosa narrativa sobre o amor – e seus demônios.
"Ela lhe perguntou num daqueles dias se era verdade, como diziam as canções, que o amor tudo podia.
 - É verdade - respondeu ele -, mas é melhor não acreditares." 

 “Como estamos longe! - suspirou ele.
- De quê?
- De nós mesmos." 



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Uma história dentro da História - Titília e o Demonão (Cartas Inéditas de D. Pedro I à Marquesa de Santos)


Parafraseando conhecida expressão, se Dom Pedro I não tivesse existido, algum autor imaginativo o teria inventado. Uma das personalidades mais marcantes da história do Brasil, ele é o personagem dos sonhos de muito ficcionista. Com uma vida recheada de fatos pitorescos, incluindo um histórico Grito do Ipiranga, alguns atos louváveis e muitas trapalhadas, suas atitudes combinam toques de canalhice escancarada, charme de conquistador barato e sensibilidade de pai afetuoso de incontáveis filhos - legítimos ou não. E como se não bastasse tudo isso, foi o elo mais forte de um dos mais conturbados triângulos amorosos de que se tem notícia em terras tupiniquins.
O exaustivamente comentado romance com Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, ganha novas luzes com o livro “Titília e o Demonão – Cartas Inéditas de D. Pedro I à Marquesa de Santos”, de Paulo Rezzuti, publicado em 2011 pela Geração Editorial. Nele, o autor acrescenta aos já conhecidos relatos do tórrido affair, mais 94 cartas íntimas do Imperador destinadas à sua mais famosa amante. Descobertas pelo pesquisador em um museu dos Estados Unidos, essas missivas apimentam ainda mais as histórias sobre a avassaladora paixão que balançou as estruturas da Corte no Brasil e fez história dentro da História do país.
Transcritas e corrigidas levemente em sua grafia e pontuação, de forma a facilitar a compreensão, as cartas não são datadas, mas foram dispostas de acordo com os fatos cronológicos, graças a uma cuidadosa pesquisa do autor. Por meio delas, descobrimos não apenas o amante, por vezes apaixonado e suplicante, mas também um pai desvelado dos filhos que teve, tanto com a esposa - a Imperatriz Leopoldina, quanto com Domitila. Há nas mensagens, pinceladas sobre acontecimentos da época, citações sobre personagens importantes da cena imperial, bem como a exposição de preocupações do Imperador com os rumos daquela que ele chama de “nossa Pátria”.
Em certas cartas e bilhetes contidos no livro, nada sugere que seu portador seja tão célebre figura, mas sim, um homem comum, preocupado com a saúde da amada e dos filhos: “Desejo, pelo muito que me interesso pela sua saúde, (que) me mande dizer como passou do seu incômodo da cabeça, e juntamente como passou nossa Belinha, que de mecê será inseparável até ter idade de aprender, e mecê querer.” (Carta 9)

“Manda-me dizer como passaste o resto da noite e se não te fez mal o frio do chão nos pés.” (Carta 57)
Em outras, busca acalmar os ânimos da amante ciumenta:  “Se o amor que temos um ao outro é verdadeiro, devemos perdoar suspeitas mal fundadas ou, por outra, ciúmes vagos sem fundamento” (Carta 38)
O Imperador
Em algumas missivas, assinadas como “O Demonão”, “O Imperador” ou mesmo “O anônimo”, Dom Pedro elabora artimanhas para que possam se encontrar, o que se mostra irrelevante, já que o caso, que durou sete anos, nunca foi mantido em segredo, a ponto de o Imperador ter trazido Domitila (e vários membros de sua família) para morar na Corte e tê-la nomeado dama de companhia da Imperatriz: “Manda, filha, fazer a porta, e até ela ficar pronta irei entrando pelo portão de costume, por onde hei de visitar hoje às dez horas querendo tu, o que espero, pois não quererás dar cabo deste teu filho com mais essa provação de me proibir lá ir” (Carta 66).

“Até à noite, que conversaremos, e nos apalparemos por dentro e por fora” (Carta 23).
“Adeus, minha filha, no Teatro nos veremos e depois terá o gosto de te abraçar este teu filho, amigo, amante fiel e constante desvelado, agradecido e verdadeiro O Imperador” (carta 57).
Embora de conteúdo quase sempre romântico, não faltam nas mensagens citações à Pátria que Dom Pedro escolheu como sua: “Sonhei alguns sonhos que me mortificaram, todos relativos a nossa Pátria, à qual desejamos sumas venturas”.
As 94 cartas de Pedro para Domitila, além de outras escritas por esta para o amante expõem também detalhes prosaicos como troca de presentes, frutas e flores. Relatos sobre a saúde de um ou de outro ou briguinhas comuns de um casal incomum.
Ao contrário do que se possa imaginar, “Titila e o Demonão” não serve de material para quem deseja apenas bisbilhotar detalhes picantes sobre um casal de celebridades (tão em voga neste início de século). Mas é enriquecido de informações relevantes, apresentadas pelo autor no texto introdutório e em notas ao pé da página, que elucidam fatos e nomeiam personagens citados nas missivas, para que possamos entender melhor seu conteúdo. De certa forma, humaniza a figura histórica. E redime a mulher Domitila, que, antes de conhecer o Imperador fora casada com um alferes violento, que a esfaqueara por ciúmes (num episódio mal explicado).
Titília na época do romance
Através das notas de Rezutti ficamos sabendo, por exemplo, que a Imperatriz Leopoldina amargava a humilhação de ser traída publicamente. Que o Imperador teve com Domitila cinco filhos, dos quais apenas duas meninas sobreviveram. A primeira, Belinha foi criada na Europa e agraciada com o título de Duquesa de Goiás. A outra menina, Maria Isabel II, nasceu em São Paulo em 1830, quando já estavam separados. Também somos informados de que o Imperador teve com Domitila um filho chamado Pedro, que nasceu poucos dias após o oficial, Pedro II. O menino faleceu antes de completar um ano de idade.
Após a morte da Imperatriz Leopoldina, Dom Pedro solicitou que encontrassem para ele uma esposa na corte europeia. E para conter os comentários sobre sua fama de conquistador, achou por bem afastar Titília da Corte no Brasil. Ordem acatada por esta, muito a contragosto.
Em maio de 1829, o Imperador despediu-se de Titilia:
“Eu te amo; mas mais amo a minha reputação agora também estabelecida na Europa inteira pelo procedimento regular. [...] Tu não hás de querer a minha ruína nem a ruína de teu e meu País e, assim, visto isto além das mais razões me faz novamente protestar-te o meu amor; mas ao mesmo tempo dizer-te que não posso lá ir”.
Domitila retornou a São Paulo, com a quantia de 300 contos de réis em apólices, além da garantia de um conto de réis mensal.
Em carta ela despede-se do ilustre amante:
“Eu parto esta madrugada e seja-me permitido ainda esta vez beijar as mãos de V. Majestade por meio desta, já que os meus infortúnios, e a minha má estrela, me roubaram o prazer de fazer pessoalmente. Pedirei constantemente ao céu que prospere e faça venturoso ao meu Imperador enquanto a Marquesa de Santos, Senhor, pede por último a V. M. que, esquecendo como ela tantos desgostos, se lembre só mesmo, a despeito das intrigas, que ela em qualquer parte que esteja saberá conservar dignamente o lugar a que V. M. a elevou assim como ela só se lembrará do muito que deve a V. M. Que Deus vigie e proteja como todos precisamos.”
Marquesa de Santos”

Domitila aos 68 anos
Dom Pedro I casou-se com a duquesa austríaca Amélia de Beauharnais, duquesa de Leuchtenberg, pertencente aos Habsburgos, uma das dinastias mais importantes da Europa. Com o tempo, o caso com Domitila esfriou e pouco depois ela se casou com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, com quem teve mais quatro filhos.
Pedro faleceu aos 36 anos em 1834. Domitila sobreviveu a ele em 33 anos. Foi sepultada em 1865, em São Paulo, no Cemitério da Consolação, cujas terras ela doara à cidade.  E o affair entre ela e o Imperador foi imortalizado como o mais famoso romance da história do nosso País.

Paulo Rezutti
Titília e o Demonão: cartas inéditas de Dom Pedro a Marquesa de Santos.
Autor: Paulo Rezzutti
Geração Editorial, 2011
352 páginas
Prefácio Paulo Schmidt


terça-feira, 2 de abril de 2013

Eternamente crianças.


Em homenagem ao Dia Internacional do Livro Infantil, o blog traz hoje 10 grandes livros voltados à infância. A maior parte deles, é de livros que realmente são um sucesso entre as crianças no Brasil e no mundo. Mas também há os que fizeram fazem parte de minha memória afetiva de infância. Todos vocês, que gostam de ler, certamente ou já leram ou irão presentear uma criança de sua vida com um destes livros. Boa leitura, crianças.

1) Reinações de Narizinho - Monteiro Lobato (várias editoras) 
Monteiro Lobato leva, com justiça, o título de um dos maiores, senão o maior escritor brasileiro no gênero infantil. Reinações de Narizinho tornou-se um clássico da literatura infantil nacional, atravessando e encantando gerações. O livro reúne seis das onze histórias que começaram a ser escritas por Lobato em 1920, e levaram cerca de uma década para ficarem prontas.Neste livro, Narizinho, a neta de Dona Benta, visita o Reino das Águas Claras e leva com ela, a boneca de pano Emília. Com a chegada de Pedrinho, primo da menina "do nariz arrebitado", que veio passar férias no Sítio do Picapau Amarelo, as aventuras ficam ainda melhores. O tempo passa, mas o encanto de Narizinho e sua turma permanece.



2) Memórias da Emília  - Monteiro Lobato (várias editoras)

Livro infantil publicado pela primeira vez em 1936, pela Companhia Editora Nacional, em São Paulo, com ilustrações de Belmonte.
Emília,  que é uma boneca muito da metida, resolve contar as suas memórias, ou melhor, "mentir" as suas memórias pois, afinal, ela acha que aquele que escreve sobre si próprio "tem um pé" na enganação, na mentira. Segundo ela, se a pessoa contar o que realmente aconteceu na sua vida, todos iriam perceber que a vida é igualzinha à de todo mundo. Para ajudá-la a realizar seu intento, Emília chama o Visconde de Sabugosa, ela ditaria as memórias e o Visconde as escreveria. Muitas aventuras esperam o leitor nesse clássico eterno. (Fonte: Wikipedia)


3) Bisa Bia, Bisa Bel (Ana Maria Machado)

Uma de nossas maiores escritoras infantis, neste livro Ana Maria Machado  cria um diálogo entre Isabel - ou melhor, Bel - e sua avó - Bisa Bia - e, depois, com sua futura bisneta. Uma mistura encantadora do real e do imaginário, levando o leitor a perceber as mudanças no papel da mulher na sociedade. Esse diálogo fica ainda mais divertido quando surge uma terceira "voz": a Neta Beta, uma menina do futuro, que fala de muitas mudanças que ainda estão por vir. Um clássico da literatura para crianças.


4) O Menino do Dedo Verde – Maurice Druon (1957)

Tistu é um menino feliz, que vive na cidade chamada Mirapólvora numa grande casa, a Casa-que-Brilha, com o Sr. Papai, Dona Mamãe e o seu querido pônei Ginástico.
Eles são ricos, pois o Sr Papai tem uma fábrica de canhões. Para grande decepção de todos, Tistu dorme nas aulas e o Sr Papai resolve fazer com que o menino aprenda as coisas vendo-as e vivenciando-as. As aulas serão com o jardineiro Bigode e com o gerente da fábrica de canhões, o Sr Trovões. Na primeira aula, o jardineiro Bigode descobre que Tistu tem um dom fantástico: ele tem o dedo verde e onde ele tocar nascerão flores. Bela fábula com linda mensagem sobre o que realmente importa na vida.


 5) A Arca de Noé - Vinícius de Moraes
Livro de poemas de Vinicius de Moraes para crianças. Histórias com a magia que só o poetinha poderia oferecer, que ganharam deliciosas versões musicais. Quem não se lembra de  “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada” ou “Lá vem o pato, pato aqui, pato acolá”?
Editora: Companhia das Letras



6) Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou por lá - Lewis Carrol (várias editoras)


Passados 150 anos da publicação original, a clássica história de uma menina chamada Alice, que entra em uma toca atrás de um coelho falante e cai em um mundo de fantasia, continua popular. Edição de bolso, com capa dura e ilustrações originais de John Tenniel. Publicado pela Editora Zahar, Aventuras de Alice no País das Maravilhas e sua continuação, Através do espelho e o que Alice encontrou por lá.


7) Histórias à Brasileira 3 - Ana Maria Machado (Companhia das Letrinhas)
“O Pavão Misterioso”, “Cabra Cabrês” e “O Pescador e a Mãe-D’Água” são algumas das histórias da tradição oral brasileira recontadas neste livro de Ana Maria Machado, uma das mais premiadas escritoras brasileiras de literatura infantil (em 2000, recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, uma espécie de Nobel da literatura infantil). Terceiro volume da série que mostra às crianças um universo imaginário e traços socioculturais fáceis de se identificar.  (Fonte: site da Companhia das Letras)
Ilustrações de Odilon Moraes


8) As Coisas – Arnaldo Antunes
Integrante do Grupo de Rock Titãs, Arnaldo Antunes é um poeta em tudo que faz. Neste livro, ele faz uma brincadeira literária, explorando os sentidos e significados das palavras, com se na visão de uma criança. O resultado é um belo livro para todas as idades. Ilustrado por sua filha Rosa, então com 3 anos. Prêmio Jabuti de Poesia, em 1993.


 9) Só Meu - Mario Quintana (Ed. Global)


Mário Quintana, poeta gaúcho, é um escritor que agrada todas as idades. Neste livro ele fala com a gente miúda, numa seleção de poemas e frases feita por sua sobrinha Elena Quintana, que foi sua secretária por décadas. O projeto gráfico, com ilustrações de Orlando, reserva espaços vazios para as crianças poderem encher de desenhos que, conforme se sugere no início do livro, passarão também a fazer parte dos poemas. Fonte: Site Crescer (a partir de cinco anos)

10) Ou isto ou aquilo – Cecília Meirelles

Um dos mais belos clássicos da poesia brasileira, 'Ou isto ou aquilo' aborda os sonhos e as fantasias do mundo infantil - a casa da avó, os jogos e os brinquedos, os animais e as flores, tudo ganha vida nos poemas de Cecília Meireles.As crianças de Cecília são de verdade, têm sonhos, fazem manha, criam seu próprio mundo, com todo o lirismo com que a autora nos dá presenteia. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O austríaco que amou o Brasil. Stefan Zweig, Uma Biografia.


Um homem sério, introspectivo, obcecado pelo saber. Atormentado por fantasmas interiores e desejos nem sempre confessáveis. Um homem que amava mais o processo de criação do que a própria obra. Que se sentia sempre menor entre seus pares. Por trás de uma aparência serena e circunspecta, trazia na alma um turbilhão de paixões. Infatigável na busca de conhecimento, não queria apenas saber mais e mais. Queria transmitir. Um pacifista por natureza. E um eterno insatisfeito.
Esse é o homem retratado pela escritora francesa Dominique Bona na obra  "Stefan Zweig - Uma biografia", publicado pela Editora Record, em 1996.
Nele, a autora faz uma cuidadosa análise da vida do maior autor austríaco, da juventude tranquila em Viena até a maturidade, com intensa produção intelectual, que o tornou um dos escritores mais lidos do mundo.
Filho de uma abastada família judia, Stefan Zweig (1881-1942) fez da primeira metade de sua vida uma viagem constante, passando temporadas hospedado na casa de amigos intelectuais. 
Em 1902, publicou sua primeira obra, Silberne Saiten (Cordas de Prata), uma coletânea de poemas. Desde então, não parou mais de produzir. Traduziu para o alemão obras de Keats, Morris Yeats e Verlaine. Foi amigo de Rainer Maria Rilke, Roman Rolland, Rimbaud,Thomas Mann e Sigmund Freud. Tendo por estilo as narrativas curtas, especializou-se em novelas, gênero onde se revelou um verdadeiro gênio. 
Stefan Zweig e Friderike
Escritor profícuo, em 60 anos de vida produziu inúmeras obras, entre novelas, biografias, peças de teatro, óperas e incontáveis palestras na Europa e América. Entre algumas de suas principais obras estão "Cartas de uma desconhecida"(1922 ), "24 horas na vida de uma mulher" (1922), Angústia (1925), Confusão de Sentimentos (1927) e Amok (1922). Como autor dramático, obteve sucesso com peças como "A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-mar". Muitos de seus romances foram transformados em filmes, até hoje considerados atuais.
Já o homem Stefan Zweig era, antes de tudo, um curioso da natureza humana.
Zweig e Lotte
Colecionava romances e, aparentemente, não se entregou verdadeiramente a nenhum. No entanto, casou-se duas vezes. A primeira, em 1915, com uma escritora divorciada de olhos negros, Friderike Maria Von Winsternitz, mãe de duas filhas. E a segunda, em 1939, com Charlotte Altman, polonesa radicada na Inglaterra, 26 anos mais nova, de saúde frágil, que se tornou sua sombra. Mesmo casado, nunca renunciou a outros romances, que chamava “episódios”. Paixão mesmo, só pelos livros. E pela alma humana. Na amizade, entretanto, era o mais fiel dos amigos.
A vida tranquila de Stefan começou a ruir com a ascensão do nazismo.  Quando, em 1938, a Alemanha anuncia oficialmente a anexação da república austríaca e a converte numa província do III Reich, um estupefato Zweig percebe que o mundo no qual acreditava não mais existia.
“Seus livros são retirados das livrarias e bibliotecas, proibidos de ter qualquer publicidade e de ser comentado na imprensa.”
A casa de Petrópolis
Ele renuncia à nacionalidade austríaca e torna-se cidadão britânico. Sem pouso certo, passa a percorrer países defendendo a causa pacifista. “Sempre com a pena na mão, entre um artigo e um folhetim, entre a redação de uma conferência e uma tradução, tudo o que faz não tem senão um objetivo: a paz entre as nações.”
Deixando a Inglaterra, o escritor mora na França, em Nova York e finalmente no Brasil, onde desembarca em 1941, com sua segunda esposa, Lotte. Decide viver na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, que lembrava sua terra natal. Encantado com o povo, a natureza e o potencial do país, aqui escreve "Brasil, País do Futuro."

 Mas a guerra e o nazismo se aproximavam cada vez mais do Brasil, governado por Getúlio Vargas. E no lugar que ele considerava "um paraíso", em 23 de fevereiro de 1942, Stefan Zweig decide colocar fim à vida, ao lado de sua esposa Lotte. O mundo em que vivia já não tinha lugar para ele.


Stefan Zweig - Uma Biografia
Dominique Bona
Editora Record
384 páginas