terça-feira, 11 de junho de 2013

O Amor está no ar. E nos livros.

Em homenagem ao Dia dos Namorados, dez livros nos quais o amor está presente. A começar pelo título. 

1 - Do Amor – Stendhal
Escrito em 1820, neste livro, o autor francês Stendhal se propõe a fazer uma análise da natureza do sentimento amoroso e dos diversos aspectos de que ele se reveste. Como surge, o que transforma um sentimento de simpatia numa paixão avassaladora e qual o papel do ciúme. Para isso, partiu de sua própria experiência pessoal, uma desilusão amorosa. Nessa obra, Stendhal lança uma ideia que se tornaria célebre – a da cristalização amorosa. Segundo ele, a pessoa apaixonada cristaliza-se, paralisa-se, perdendo a capacidade de agir racionalmente, especialmente quando na presença de seu objeto amoroso. O livro se baseia na desilusão amorosa experimentada pelo autor em 1818, quando se apaixona por Matilde Dembowski, uma bela mulher, casada com um oficial de exército polonês. Seguindo-a numa viagem ao exterior, Stendhal provoca a ira de sua amada, que acaba rompendo a relação. O próprio autor chegou a nomear o livro “Do amor e das diversas fases dessa doença.”
“As pessoas felizes no amor têm aspecto profundamente atento, o que, para um francês, significa profundamente triste.”
“Há um prazer delicioso em apertar nos braços uma mulher que lhe fez muito mal, que foi sua cruel inimiga durante muito tempo e que está pronta para continuar a sê-lo. ”
2) Para Viver um Grande Amor – Vinícius de Moraes.
Quem senão ele, autor de versos inesquecíveis como “Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, para cantar o amor em suas diversas formas?Vinícius de Moraes, falecido em 1980, foi um homem apaixonado no verdadeiro sentido da palavra, sentimento que aqui não se limita apenas às mulheres de sua vida (casou-se oito vezes), mas à própria vida, a arte, a poesia e os amigos.  Publicado pela primeira vez em 1962, Para viver um grande Amor alterna poesia e prosa, versando sobre os mais diversos temas, em especial, seu preferido: o amor. A primeira edição do livro, tem dedicatória para Lucinha, a terceira mulher do poeta.
“Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor”.

3) O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez.

Inspirado na história de amor vivida por seus pais, Gabriel Garcia Márquez oferece aos leitores
uma das maiores obra-primas da literatura contemporânea. O Amor nos Tempos do Cólera tem como tema o romance de Florentino Ariza e Fermina Daza, que demora mais de meio século para se concretizar. Apaixonado pelas tranças de Fermina, o jovem Florentino passa a enviar-lhe cartas apaixonadas, mas o romance é frustrado pela oposição do pai da moça, que a envia para uma temporada no interior. Ao retornar, atendendo à vontade paterna, Fermina casa-se com o médico Juvenal Urbino, que chegara para combater a epidemia do cólera na cidade. O casamento dura 50 anos, até a morte do doutor (um dos melhores capítulos do livro). O amor de Florentino, porém, persiste a vida inteira. Segundo García Marquez, este romance foi escrito "com as entranhas”. E é assim que esse romance chega ao leitor: arrebatador. Mais do que O Amor nos Tempos do Cólera, esta é, na verdade, uma história sobre todos os amores, de todos os tempos.
"Florentino Ariza, por outro lado, não deixara de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinqüenta e um anos, nove meses e quatro dias."

4) Querido Scott, Querida Zelda - As Cartas de Amor de Scott e Zelda Fitzgerald.
Coletânea organizada por Jackson R. Bryer e Cathy W. Barks,  este livro reúne mais de 300 cartas e telegramas trocados entre o escritor norte-americano Scott Fitzgerald e sua esposa Zelda, revelando a paixão vivida por duas pessoas vulneráveis ​​ que não sabiam (ou queriam) viver sem a outra. As primeiras cartas datam de 1918, ano em que o casal se conheceu, e as últimas de 1940, quando Fitzgerald morreu, de ataque cardíaco.A relação tumultuada dos dois influenciou a maior parte das obras dele e a única dela - Esta valsa é minha. Levando uma vida cheia de altos e baixos, o casal mudou-se várias vezes e acabou fixando residência em Paris, em 1924, onde tiveram contato com escritores americanos como Gertrude Stein e Ernest Hemingway, entre outros da chamada “geração perdida”. Nas cartas, percebem-se as sucessivas brigas e reconciliações do casal, os problemas de alcoolismo de Fitzgerald e os indícios  progressivos da doença mental de Zelda. Só não dá pra dizer que eles não se amaram.
Para minha querida mulher, minha doce e adorada
Baboo, sem cujo amor e ajuda
nem este nem qualquer outro livro
seria jamais possível. 
De mim, que a amo mais
a cada dia que passa, com o coração
transbordando de veneração por esse ser adorável.

 (Dedicatória de Scott para Zelda em seu segundo romance, Belos e Malditos)
5) Cem Sonetos de Amor - Pablo Neruda
Uma das maiores vozes da poesia mundial do século XX, o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) alternou uma vida de engajamento com  a causa da liberdade e os devaneios de uma alma lírica e apaixonada. Obra que emociona seus leitores há várias gerações, este livro traz os principais poemas de Neruda, que conquistou o Prêmio Nobel de Literatura de 1971. Dividido em quatro partes - manhã, meio-dia, tarde e noite,  tem como tema central o amor e foi dedicado a Matilde Urrutia, sua última musa."Com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância (...)" 

Soneto LXVI

"Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não te querer eu quero
e de esperar-te quando não te espero
passa o meu coração de frio ao fogo.
Te quero só porque a ti eu quero
do ódio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida de meu amor viajante

é não ver-te e amar-te como um cego."











6) Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco
Representante luso nesta seleção, Camilo Castelo Branco oferece nesta novela, publicada em 1862, a  história de amor entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque A obra destaca o choque entre duas gerações – os pais que se odeiam – os fidalgos Tadeu de Albuquerque de Domingos Botelho e o jovem casal que se ama, Teresa e Simão. Com forte oposição da família, Teresa é enviada a um Convento para ser afastada do amado e as consequências são irremediáveis. Bem ao estilo de Romeu e Julieta, esse romance tornou-se um  marco no romantismo Português.


7) De Amor e de Sombras - Isabel Allende
O segundo romance da escritora chilena Isabel Allende  nos transporta para um país da América Latina que vive sob o jugo de uma ditadura militar encabeçada pelo anônimo General, designação que nos remete ao ditador Pinochet.
Irene Beltran, uma jornalista proveniente de uma família abastada, e Francisco Leal, um fotógrafo filho de um professor Marxista, se deparam com uma sepultura coletiva, onde foram despejados os corpos das pessoas torturadas e assassinadas pela polícia. E se enveredam por uma corajosa investigação em busca da verdade, numa nação mergulhada em terror e com seu amor crescendo à sombra da morte.
Segundo a autora, ela  escreveu "De amor e de sombras" para que o tempo não apagasse "a história de uma mulher e de um homem que se amaram plenamente, salvando-se assim de uma existência vulgar". 

8) Amor é Prosa, Sexo é Poesia - Arnaldo Jabor
Publicado pela primeira vez em 2004, este livro reúne 36 crônicas em 197 páginas, recheadas de ironia e bom humor, uma rabugice saudosista e um romantismo melancólico, próprio do autor. Em “Amor é prosa, sexo é poesia”, a relação amorosa aparece em vários momentos, principalmente na crônica que dá origem ao título do livro, na qual  o autor faz uma comparação entre o amor e o sexo, defendendo que, em sua opinião, embora se complementem, estes não são iguais. E por que seriam?
“O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo. Sexo é contra a lei. O amor vem depois. O sexo vem antes. O amor sonha com grande redenção. O sexo só pensa em proibições. Amor é casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; o sexo é o MST. Amor é um texto. Sexo é esporte. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval”.
9) Amor - Isabel Allende 
Ao completar 70 anos no ano passado, a escritora chilena Isabel Allende, atendendo à sugestão de seu editor, celebrou seu aniversário reunindo num livro  de contos as principais cenas de amor de seus romances. O livro, que não poderia ter outro nome, é dividido por temas, e em cada um deles, há uma seleção de textos que abrange vários títulos, entre eles "A Ilha sob o Mar", "Filha da Fortuna", "A Soma dos Dias" e "A Casa dos Espíritos". E para tornar essa escolha mais especial, a autora explica o motivo da escolha dos trechos. O recado é claro: Atreva-se a amar. 
"Passei minha vida apaixonada, não me recordo de uma época em que não estivesse amando, mas mesmo assim, o amor é mais fácil na literatura". "Por sorte, tenho a escrita, onde posso viver todas as aventuras que na vida real não poderia fazer nos meus pensamentos".
10) Do Amor e Outros Demônios - Gabriel García Marquez
Publicado em 1995, esta obra traz todos os ingredientes que compõem uma história de Gabriel Garcia Márquez. Baseia-se em um acontecimento por ele vivenciado, misturando elementos da mitologia popular e uma tocante crítica à intolerância religiosa. E, principalmente, mistura amor e sofrimento, como se ambos fossem sentimentos indissociáveis. O livro tem inspiração em seus tempos de repórter em 1949, quando, ao cobrir a remoção das criptas funerárias de um Convento, depara-se com uma ossada com cabelos cor de cobre, de aproximadamente 22 metros. Recorda-se então da lenda contada por sua avó sobre uma marquesinha do Caribe, de longa cabeleira, que morrera mordida por um cão. Anos depois, o Gabo recria a história da menina, brindando-nos com uma dolorosa narrativa sobre o amor – e seus demônios.
"Ela lhe perguntou num daqueles dias se era verdade, como diziam as canções, que o amor tudo podia.
 - É verdade - respondeu ele -, mas é melhor não acreditares." 

 “Como estamos longe! - suspirou ele.
- De quê?
- De nós mesmos." 



2 comentários:

  1. Muito bom, Mari. Sobre a cristalização do apaixonado descrito por Stendhal, na raiz da palavra paixão está a passividade. O apaixonado passa a viver em função de seu objeto, torna-se passivo a orbitar o outro. Perde sua alma. Ainda bem que existe cura pra essa doença, é viver ativamente apaixonado: pela arte, pelos livros, por quem se quer bem, pela vida. A tristeza passiva e paralisada se transforma em alegria sempre ativa e criadora de mais vida.
    A.

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  2. Tem toda razão, A. Eu aplico isso na vida. Ter uma paixão também por coisas que nos encantem, além das pessoas em si. Como eu citei sobre Vinícius, que era apaixonado em tudo. Obrigada pelo comentário!

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