
Tempos muito estranhos, de Doris Kearns Godwin, é um relato dos anos de Franklin Delano Roosevelt no posto de homem mais importante dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Confesso que que antes de lê-lo, pouco sabia sobre Franklin Delano Roosevelt. Sabia de sua relevância no new deal, a aliança com o poderoso Churchill durante a Segunda Guerra, mas não conhecia muito de sua personalidade. E o livro acabou sendo uma lição que nunca aprendi na escola. Ele revela o cotidiano do casal Franklin - Eleanor Roosevelt, seus amigos, companheiros (e amantes) durante o maior conflito mundial, ao mesmo tempo em que esboça os acontecimentos mais

Outra figura peculiar era Lorena Hickock, chamada de Hick, jornalista e grande amiga de Eleanor, com quem, especula-se, ela teve uma ligação amorosa. E o próprio Churchill, que esteve hospedado algumas vezes na Casa Branca, com seus hábitos pitorescos de só dormir de camisolão e pedir ao mordormo “uma dose de Cherez pela manhã, duas de uísque com soda no almoço e um champanhe 90 anos à noite”, além da escapulida diária para a sesta vespertina.
Em um dos trechos mais engraçados do livro, o primeiro ministro inglês aparece de camisolão, traseiro à mostra, engatinhando no compartimento de bombas do avião que o transportava para um encontro em Casablanca com o presidente americano.
O livro reúne, ainda, momentos contundentes, como quando a população americana é conclamada a participar, doando potes e panelas de alumínio para serem derretidos e reutilizados na fabricação de aviões. Meias de seda das senhoras deveriam ser doadas para a fabricação de para-quedas, momento em que Eleanor, para dar exemplo, passa a usar meias pretas de algodão.
Em Tempos muito estranhos, a primeira dama ocupa espaço tão relevante quanto o do presidente. Sempre fiel à causa social e impelida a participar efetivamente dos acontecimentos em seu país, foi a primeira esposa de presidente a ter um emprego no governo, a comparecer diante de um congresso, a dar coletivas à imprensa e manter uma coluna nos jornais. É marcante no livro sua decisão de viajar para a Inglaterra para visitar as tropas americanas ali posicionadas. Nos EUA, quando a mão-de-obra torna-se escassa, ela incentiva as norte-americanas a entrarem para o mercado de trabalho, já que os homens, seus pais, maridos e irmãos estavam no front de guerra – e o país não podia parar. Com isso, as mulheres tomaram gosto, assumiram tarefas tidas como masculinas em fábricas e indústrias e nunca mais foram as mesmas. Porém, o fato de Eleanor aparecer com tanta intensidade no livro, não significa que Roosevelt não se destaca. Ao contrário: carismático e confiante, ele justifica a imagem de um dos homens mais importantes de sua época e as passagens de seus diálogos com Churchill são inesquecíveis. Em determinado ponto, registra-se uma frase de Roosevelt para o amigo britânico: “É muito divertido estar na mesma década que você". Em outro trecho, quando alguém pergunta à Primeira Dama como pensa o Presidente, esta responde: "Meu caro, o Presidente não pensa, ele decide".
É interessante como esse homem, que se locomovia por cadeira de rodas, quase nunca demonstrava fraqueza. Caminhava apoiando-se e discursava de pé, daí o fato de sua deficiência ser esquecida. A imprensa era tão solidária a ele que não o fotografava em cadeira de rodas.
Eu levaria muitas páginas para discorrer sobre por que o livro Tempos Muito Estranhos é uma grande obra. Mas prefiro recomendar a leitura. Será muito mais prazeroso.
Livro - Tempos Muito Estranhos
Autor: Doris Kearns Godwin
Editora: Nova Fronteira