quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mária digam por favor.

A vida inteira eu tive que corrigir quando pessoas falavam meu nome pela primeira vez:
- Maira? Mara? Mariá?
- Não... É Mária mesmo, feminino de Mário.
Invariavelmente a pessoa fazia uma expressão de surpresa:
- Ah, que diferente!
Em documentos variados, sempre vem a tal Maria me atormentar. No telemarketing então, é inevitável:
- Queria falar com a Senhora Marííía Lacerrrrda?
Mas houve um momento em que fiquei muito, muito orgulhosa do meu nome. Tinha eu meus 11, 12 anos de idade, quando descobri o poema Canção de Muitas Marias, do nosso maravilhoso poeta modernista Manuel Bandeira.Como se não bastasse a infinidade de belos poemas com que Bandeira nos brindou, a mim, sem querer, ele me deu esse presente, falando o que eu gostaria de dizer a alguns incautos personagens: "Mária digam por favor".

Canção de muitas marias
Manuel Bandeira (Lira dos Cinqüenta anos)

Uma, duas, três Marias,
Tira o pé da noite escura.
Se uma Maria é demais,
Duas, três, que não seria?

Uma é Maria da Graça,
Outra é Maria Adelaide:
Uma tem o pai pau-d’água,
Outra tem o pai alcaide.

A terceira é tão distante,
Que só vendo por binóculo.
Essa é Maria das Neves,
Que chora e sofre do fígado!

Há mais Marias na terra.
Tantas que é um não acabar,
- Mais que as estrelas no céu,
Mais que as folhas na floresta,
Mais que as areias no mar!

Por uma saltei de vara.
Por outra estudei tupi.
Mas a melhor das Marias
Foi aquela que eu perdi.

Essa foi a Mária Cândida
(Mária digam por favor),
Minha Maria enfermeira,
Tão forte e morreu de gripe,
Tão pura e não teve sorte,
Maria do meu amor.

E depois dessa Maria,
Que foi cândida no nome,
Cândida no coração;
Que em vida foi a das Dores.
E hoje é Maria do Céu:
Não cantarei mais nenhuma,
Que a minha lira estalou,
Que a minha lira morreu!

Poeta do modernismo brasileiro nasceu em Recife, Pernambuco, em 1886. Publicou seu primeiro livro de versos, Cinza das Horas, no ano de 1917. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922 declarando estar "farto do lirismo comedido".
Um dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil, faleceu no ano 1968.
(Fotografia extraída do site http://recantodasletras.uol.com.br)

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