quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pablo, Vinícius, Fernando



Um pouco de romantismo não faz mal a ninguem. Em homenagem ao Dia dos Namorados que está chegando, três mestres no assunto. Poemas que são eternos como um grande amor.

Antes de Amar-te (Pablo Neruda)

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Soneto da Fidelidade (Vinícius de Morais)

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Todas as cartas de amor são ridículas
(Fernando Pessoa/Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

3 comentários:

  1. Olá.
    Obrigado pela visita, e quero te dizer que eu adorei seu blog, não o li de todo mas vou procurar fazer isso em breve.
    Bjs

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  2. Pouco se conhece da genialidade de Fernando Pessoa sem ler o Livro do Desassossego do seu heterónimo Bernardo Soares. Se ainda não o leste, prepara-te para uma ou outra vertigem...

    Um Abraço

    MFS

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  3. Obrigada pela dica, MFS. Li alguns poemas do Livro do Desassossego, mas quero me aprofundar mais na obra desse autor genial. Abraços!

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