sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O austríaco que amou o Brasil. Stefan Zweig, Uma Biografia.


Um homem sério, introspectivo, obcecado pelo saber. Atormentado por fantasmas interiores e desejos nem sempre confessáveis. Um homem que amava mais o processo de criação do que a própria obra. Que se sentia sempre menor entre seus pares. Por trás de uma aparência serena e circunspecta, trazia na alma um turbilhão de paixões. Infatigável na busca de conhecimento, não queria apenas saber mais e mais. Queria transmitir. Um pacifista por natureza. E um eterno insatisfeito.
Esse é o homem retratado pela escritora francesa Dominique Bona na obra  "Stefan Zweig - Uma biografia", publicado pela Editora Record, em 1996.
Nele, a autora faz uma cuidadosa análise da vida do maior autor austríaco, da juventude tranquila em Viena até a maturidade, com intensa produção intelectual, que o tornou um dos escritores mais lidos do mundo.
Filho de uma abastada família judia, Stefan Zweig (1881-1942) fez da primeira metade de sua vida uma viagem constante, passando temporadas hospedado na casa de amigos intelectuais. 
Em 1902, publicou sua primeira obra, Silberne Saiten (Cordas de Prata), uma coletânea de poemas. Desde então, não parou mais de produzir. Traduziu para o alemão obras de Keats, Morris Yeats e Verlaine. Foi amigo de Rainer Maria Rilke, Roman Rolland, Rimbaud,Thomas Mann e Sigmund Freud. Tendo por estilo as narrativas curtas, especializou-se em novelas, gênero onde se revelou um verdadeiro gênio. 
Stefan Zweig e Friderike
Escritor profícuo, em 60 anos de vida produziu inúmeras obras, entre novelas, biografias, peças de teatro, óperas e incontáveis palestras na Europa e América. Entre algumas de suas principais obras estão "Cartas de uma desconhecida"(1922 ), "24 horas na vida de uma mulher" (1922), Angústia (1925), Confusão de Sentimentos (1927) e Amok (1922). Como autor dramático, obteve sucesso com peças como "A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-mar". Muitos de seus romances foram transformados em filmes, até hoje considerados atuais.
Já o homem Stefan Zweig era, antes de tudo, um curioso da natureza humana.
Zweig e Lotte
Colecionava romances e, aparentemente, não se entregou verdadeiramente a nenhum. No entanto, casou-se duas vezes. A primeira, em 1915, com uma escritora divorciada de olhos negros, Friderike Maria Von Winsternitz, mãe de duas filhas. E a segunda, em 1939, com Charlotte Altman, polonesa radicada na Inglaterra, 26 anos mais nova, de saúde frágil, que se tornou sua sombra. Mesmo casado, nunca renunciou a outros romances, que chamava “episódios”. Paixão mesmo, só pelos livros. E pela alma humana. Na amizade, entretanto, era o mais fiel dos amigos.
A vida tranquila de Stefan começou a ruir com a ascensão do nazismo.  Quando, em 1938, a Alemanha anuncia oficialmente a anexação da república austríaca e a converte numa província do III Reich, um estupefato Zweig percebe que o mundo no qual acreditava não mais existia.
“Seus livros são retirados das livrarias e bibliotecas, proibidos de ter qualquer publicidade e de ser comentado na imprensa.”
A casa de Petrópolis
Ele renuncia à nacionalidade austríaca e torna-se cidadão britânico. Sem pouso certo, passa a percorrer países defendendo a causa pacifista. “Sempre com a pena na mão, entre um artigo e um folhetim, entre a redação de uma conferência e uma tradução, tudo o que faz não tem senão um objetivo: a paz entre as nações.”
Deixando a Inglaterra, o escritor mora na França, em Nova York e finalmente no Brasil, onde desembarca em 1941, com sua segunda esposa, Lotte. Decide viver na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, que lembrava sua terra natal. Encantado com o povo, a natureza e o potencial do país, aqui escreve "Brasil, País do Futuro."

 Mas a guerra e o nazismo se aproximavam cada vez mais do Brasil, governado por Getúlio Vargas. E no lugar que ele considerava "um paraíso", em 23 de fevereiro de 1942, Stefan Zweig decide colocar fim à vida, ao lado de sua esposa Lotte. O mundo em que vivia já não tinha lugar para ele.


Stefan Zweig - Uma Biografia
Dominique Bona
Editora Record
384 páginas

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